17 maio 2009

something*

"E lá estava eu a vaguear, como sempre fazia. Uma vez mais as duas crianças brincavam alegremente sob o olhar atento da mãe, o velho alimentava os pássaros, e tu mantinhas-te debaixo daquela árvore a ler. Sentei-me, não muito longe de ti, naquele mesmo sítio de sempre, onde eu ficava a observar as vidas que ao meu redor se desenrolavam. Era sempre igual, mas eu já não me importava, já fazia parte de mim.Normalmente eu era capaz de ali ficar horas sentada naquele mesmo sítio, mas naquele dia foi diferente. Olhei para ti e fui recebida, pela primeira vez, com o teu olhar penetrante, acolhedor. Corei e desviei o olhar rapidamente quando tu esboçaste um sorriso. Tentei concentrar-me nos meus próprios pensamentos, mas sentia o teu olhar fixo em mim. Corei novamente. É espantosa a capacidade que tens de me fazer corar com um simples olhar. E foi então que apareceste ao meu lado, e na tua voz grave e profunda perguntas-te se te podias sentar ao pé de mim. Tomaste o meu sorriso como um sim, e ainda bem! Nenhuma palavra foi trocada entre nós, para além de um simples “adeus” quando saí. No entanto, a tua presença foi suficiente para me preencher.E foi então que tudo começou. Todos os dias as duas crianças brincavam alegremente sob o olhar atento da mãe, o velho alimentava os pássaros, e tu vinhas sentar-te ao pé de mim."

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