02 junho 2009

the wall

sentado , quieto a olhar. a parede não se mexe , não respira nem faz qualquer movimento mas mesmo assim é mais viva do que qualquer um de nós. não passa de uma parede , mas esta tem algo mais. está situada ao lado de não sei bem o quê. está perdida pela cidade , ou a cidade é que está perdida nela. está à minha frente , imobilizada comigo. daqui não saimos.
não tem cor nem tem cheiro , está morta por assim dizer. mas é das tais coisas que só damos valor depois de mortas. o que pode significar uma parede ?
estou enclausurado por ela , o que antes parecia ser so um conjunto de pedras umas em cima das outras à minha frente é agora um círculo que me rodeia e me faz estar preso. mas observo cada traço seu.
uma parede é mais do que isso , uma parede se falasse contar-nos-ia mais do que qualquer aspirante a 'ter a mania que sabe'. vivem pelas paredes inúmeras coisas , mas nesta não. apenas um pequeno resto de um poster publicitario rasgado e sem cor , uma tentativa de desenho daqueles feitos com tinta enlatada , parece uma caveira ou uma nave espacial , ainda nem sei bem. a arte de rua tambem consegue ser abstracta. esta parede é diferente porque me cativa , aposto que a gente ja fez de tudo contra ela. de tudo. ontem estive encostado a ela , tentando prever o dia de hoje , que em nada foi igual ao que previ. de cigarro na boca e atirando beatas para aquele chão só pensava no que realmente vale a pena pensar , naquilo que nos faz manter sempre de pé e sem cair ou sequer tropeçar mais a sério. aquilo em todas as tentativas (falhadas) de obstruçao nos fazem mais seguros , mais experientes.
eu e a parede somos velhos amigos de guarda , sou veterano e ela também. fiz parte do seu crescimento e ela do meu. devia ter os meus 20 anos quando a construí , apenas por que precisava do dinheiro. hoje é a minha companhia depois dos tempos. nunca soube por que a construimos , ela so ajuda a dividir um mundo em dois. o nosso lado e o outro lado.